A ambivalência na maternidade
- Dra. Fernanda Sartori
- 4 days ago
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A maternidade, em sua complexidade, é uma experiência que envolve não apenas momentos de grande prazer, mas também desafios intensos, muitas vezes não reconhecidos ou minimizados pela sociedade.
Sentimentos contraditórios — como amor, angústia, afeto e raiva — fazem parte da vivência materna desde o início da gestação, e continuam a se manifestar ao longo da relação mãe-filho(a), refletindo a ambivalência profunda que permeia o papel de mãe.
A sociedade, de forma geral, tem uma visão romantizada da maternidade, associando-a ao amor incondicional e ao sacrifício total. No entanto, essa ideia de mãe perfeita — sempre disponível e repleta de amor — colide com a realidade das mulheres, que enfrentam angústias, incertezas e, muitas vezes, solidão.
A ambivalência materna se faz presente desde a concepção do filho, quando se instauram instabilidades biológicas, hormonais, corporais e psíquicas. A mulher precisa ajustar-se a mudanças profundas em seu corpo, relacionamentos, carreira e vida pessoal.
Esse processo é um grande desafio, pois a mulher se vê responsável por gerenciar não só as necessidades do filho(a), mas também as suas próprias, enquanto reestrutura sua identidade como mulher.
Nesse contexto, é natural que amor e ódio andem lado a lado, como explica a psicologia através do conceito de ambivalência. No entanto, é nesse cenário que muitas mulheres se sentem pressionadas a negar ou ocultar esses sentimentos contraditórios.
A visão social da mãe idealizada — sempre amorosa, dedicada e sem falhas — pode levar a mulher a se sentir enclausurada, temendo expressar suas angústias e ambivalências. A própria ideia de "mãe perfeita" perpetua um tabu, dificultando o reconhecimento da complexidade emocional da maternidade.
Reconhecer e dar voz à ambivalência é crucial para que possamos compreender de forma mais honesta e humana o que significa ser mãe.
A maternidade é, sem dúvida, uma das experiências mais transformadoras na vida de uma mulher, mas também uma das mais complexas, onde amor, dor, prazer, angústia e frustração coexistem em um equilíbrio delicado.
Fernanda Sartori
Referência utilizada: Rossi , J. P. G. ., dos Santos , C. R. P. ., & Brescansin , L. Y. (2020). “Entre o amor e o ódio”: contribuições do mito da “Medéia” de Eurípedes para o estudo da ambivalência materna. APRENDER - Caderno De Filosofia E Psicologia Da Educação, (23), 153–174. https://doi.org/10.22481/aprender.v0i23.7325
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