top of page
Search

O que os psiquiatras não te contam

  • Writer: Dra. Fernanda Sartori
    Dra. Fernanda Sartori
  • Apr 27
  • 2 min read

O risco inerente a qualquer pensamento reducionista é a produção de soluções míopes, que só enxergam o que está muito próximo e ignoram qualquer outra perspectiva”. 


Esse é um trecho do livro “O que os psiquiatras não te contam”, da psiquiatra e neurocientista brasileira Dra. Juliana Belo Diniz, publicado pela editora Fósforo em janeiro deste ano.


Nessa obra, Diniz defende um ponto de vista abrangente e corajoso sobre a psiquiatria.

Seu modo de ver a psiquiatria é embasado em evidências científicas, mas não desconsidera que a boa ciência, por melhor que seja, tem suas limitações.


Esse ponto de vista também se apoia na constatação de que a psiquiatria, embora seja uma ciência médica, não pode ser entendida apenas sob a perspectiva biológica — o que a torna diferente das demais ciências.

 

Como neurocientista e psiquiatra, Juliana tem propriedade teórica e empírica para afirmar: os transtornos psiquiátricos são muito mais do que doenças do cérebro. Os problemas que a psiquiatria trata não estão nos neurotransmissores insuficientes nem em um cérebro problemático. Os transtornos mentais acometem indivíduos como um todo — não apenas um órgão (no caso, o cérebro) 🧠 


É por isso que atribuir à dopamina os comportamentos de busca por recompensa em telas de celular, jogos eletrônicos ou comida é um equívoco. A dopamina é um neurotransmissor envolvido nas sensações de prazer, mas não é o vilão a ser culpado pelo vício de ninguém. Isso é tão absurdo quanto culpar o coração por bater mais forte quando estamos empolgados.


Assim, os argumentos de Juliana são fundamentais para refletirmos sobre a psiquiatria nos dias de hoje, em que as informações sobre saúde mental transbordam, mas ficam no raso


As pessoas, por sua vez, não têm a obrigação de compreender toda a complexidade da psiquiatria como ciência — muito menos de ter senso crítico sobre as informações que recebem.


Quem precisa de uma postura criteriosa para evitar a patologização e a medicalização da vida são os próprios psiquiatras (e os psicólogos clínicos, que não estão isentos dessa responsabilidade).


Ao mesmo tempo, diferentemente de alguns profissionais de saúde mental que atribuem os transtornos mentais quase exclusivamente a problemas sociais/ econômicos/ políticos, eu afirmo: os transtornos psiquiátricos existem. Além disso, o reconhecimento e o tratamento adequado tem o potencial de melhorar e salvar vidas. 


Mas quando falo em tratamento, não me refiro apenas ao medicamentoso. Tampouco me refiro exclusivamente ao psicoterápico. 


Os casos dos quais psiquiatria e psicologia clínica se ocupam são muito diversos e, para cada condição, para cada gravidade, para cada magnitude de acometimento e prejuízo, poderá ser mais ou menos relevante o tratamento psiquiátrico.


Isso tudo sem esquecer os recursos mais básicos dos quais qualquer psicólogo ou psiquiatra precisa — e deve — lançar mão: a empatia e a escuta terapêutica.



Nada disso é simples, mas uma boa psiquiatria não pode entender as pessoas e os problemas de maneira simples e nem míope — precisa enxergar além, até mesmo daquilo que não é visível ou mensurável: tudo aquilo que nos faz humanos.


Fernanda Sartori





 
 
 

Комментарии


©2019 by Dra. Fernanda Sartori Psiquiatra. Proudly created with Wix.com

bottom of page